Terraplenagem

“É preciso saber viver”

Dom Quixote das Gerais
2 min readDec 7, 2022

Definitivamente eu não sei, acho que jamais saberei viver com 50% do que é necessário para uma vida razoável, mas invejo quem sabe.

Fazer casamentos é uma tarefa que tem me gerado essa discussão interna, uma crise, um tanto de implosão e de construção.

Mas ao mesmo tempo, tem me gerado estalos de uma “não-ação”.

Nem sempre, construir algo é o caminho.

Se render ao vento e deixar que as coisas passem pelo trilho da própria vida é talvez o melhor conselho que eu tenho tentado me dar.

Não se coloca nada no lugar de outra coisa assim, de imediato.

Um terreno precisa ser aplainado a medida que você for demolir um castelo para construir outro.

Assim é a vida, ou ao menos como eu tenho percebido a vida.

Eu não posso criar totens para suprir, lembrar e tal, a vida é orgânica, e por mais que uma tatuagem, uma viagem, uma roupa ou um cabelo novo possam ajudar a marcar um momento de mudanças, é preciso antes de tudo isso, deixar o tempo passar.

Toda construção, quando demolida, deixa ligeiras imperfeições na terra, que podem definir a durabilidade do que virá no futuro, sua solidez, sua resiliência ao clima.

Pensando nisso tudo, eu percebi o quanto eu errei.

Errei por tentar cobrir, reconstruir algo por cima, isso não se faz, é imprudente e gera caos no terreno e ao redor dele.

Coloquei em caos a minha vida e a de outros.

Errei por colocar muros, errei por anunciar uma nova construção ou a venda desse meu terreno chamado vida.

Essa especulação imobiliária que eu causei, isso custou caro, tem custado diariamente enquanto me olho no espelho escovando os dentes, ou vendo meus cabelos caindo e meu peso sumindo.

Demiti meus sócios (amigos), aqueles que construíram coisas fabulosas comigo.

Cheguei na falência, por vergonha, ou como diria a Bernardete, por um orgulho travestido de vergonha.

Orgulho de ser sempre o suporte e nunca o suportado.

O orgulho se encontra onde mais achamos que somos humildes e simples.

Errei de um jeito que talvez eu não me perdoa tão cedo, mesmo que o meu exercício agora consista em pedir perdão aos outros e a mim mesmo.

E nesse último ato de perdão, eu preciso me perdoar.

Eu achei que daria conta, que sairia tranquilamente, mas foi me isolando que me perdi, na minha vaidade.

Talvez um dia, eu consiga reconstruir, espero que um dia, queiram reconstruir e cuidar do meu terreno comigo (e que eu me abra para isso), meus amigos, como eu os abandonei.

Me fechei uma vez, quase 5 anos atrás, me isolei e por isso, não machuquei ninguém ou melhor dizendo machuquei menos do que eu vejo que machuquei hoje.

Nesses últimos dias, eu decidi abrir mão e pedir socorro com sinceridade, pedi e encontrei.

Agora, me resta, recomeçar, e nessa árdua jornada de preparar o terreno, eu preciso da ajuda de outros.

Eu preciso me perdoar e eu preciso pedir perdão.

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